sexta-feira, 30 de maio de 2014

O homem produz para a sua eleição e salvação?





Constantemente se ouve entre os arminianos a ideia de que no calvinismo o homem também coopera com Deus PARA a eleição e salvação.  Quando o arminiano é confrontado com a objeção de que "no arminianismo o homem e Deus são os autores da salvação pois cooperam PARA a eleição e salvação do homem", ele rapidamente dirá: " mas no calvinismo há também cooperação entre o homem e Deus, visto que o homem precisa crer para ser salvo".  Pois é, para os arminianos, até mesmo a eleição e a salvação no calvinismo é sinergista; isto é, o homem e Deus cooperam no ato eletivo e salvífico. 


Buscarei refutar a afirmação arminiana de que "o calvinismo também é sinergista" levando em conta as visões de eleição e salvação nas duas cosmovisões. 

No arminianismo, a eleição é condicional e se deu antes da fundação do mundo. Ou seja, Deus, antes do tempo, previu a fé de certos homens no decorrer do tempo e escolheu estes para a salvação. A eleição é baseada ou condicionada à fé prevista. Já no calvinismo, a eleição é incondicional e também se deu antes da fundação do mundo. Ou seja, Deus, antes do tempo, sem levar em conta nenhuma ação do homem elegeu para a fé, e não por causa da fé. A eleição é baseada exclusivamente na vontade soberana de Deus. 

Então está claro que, para as  duas cosmovisões teológicas em análise, os homens devem crer(ter fé) para serem salvos.  Mas  talvez alguns, apesar do que foi escrito até aqui, ainda não tenham percebido onde mora a incoerência da argumentação arminiana que diz que o "calvinismo também é sinergista".

Então, onde se encontra a diferença entre uma e outra cosmovisão  no que diz respeito a uma ser sinergista, no caso a cosmovisão arminiana, e a outra ser monergista, no caso a cosmovisão calvinista? Como podemos provar que de fato o calvinismo é monergista? 

A diferença entre as duas cosmovisões se encontra justamente no fato de que:

No arminianismo, como já demostrado, Deus elegeu antes da fundação do mundo aqueles que Ele previu que teriam a fé. Ou seja, Deus elegeu por CAUSA DA FÉ. Logo, a eleição no arminianismo é de Deus e do homem. De Deus que decidiu as condições(presciência da fé humana) e do homem que confirmou essas condições quando teve fé e passou, por sua escolha,a ser um eleito. Assim sendo, no arminianismo, o homem produz ou produziu PARA a sua eleição. Como também, em determinado momento da presciência de Deus, o homem pôde ser tido como o co-autor de sua eleição. No arminianismo, Deus só faz confirmar o que o homem já decidiu para si.

No calvinismo, Deus elegeu incondicionalmente antes da fundação do mundo. Por eleição incondicional, não subestimamos o fato de que o " creia e serás salvo"  é necessário para a salvação. Mas isso em um sentido temporal. Em um sentido atemporal, os eleitos já foram escolhidos; e é esta escolha, que se deu antes da fundação do mundo, a causa do “ crer para ser salvo” no decorrer do tempo. Logo, a salvação e eleição  não está e nunca esteve nas mãos do homem, mas nas mãos de Deus que elegeu para a fé Nele. Como também, o homem não produziu ou produz PARA a sua eleição.  A causa da eleição e salvação no calvinismo não se encontra no homem, mas na escolha soberana e atemporal de Deus.

Claro, devemos entender que há uma diferença entre dizer que "o homem produz PARA a eleição e salvação" e que "o homem produz NA eleição e salvação". O calvinismo é sim monergista na salvação; mas, quanto a santificação, muitos calvinistas aceitam um certo tipo de sinergismo.O homem é quem se santifica, não Deus. Mas o homem só santifica-se por ter sido escolhido para isto(Ef 2:10). Sendo assim, o homem não produz PARA a eleição e salvação; no máximo ele produz NA, ou durante a salvação, justamente por ter sido eleito para tais fins. 

É por isso que Paulo diz " operai a VOSSA salvação"(Fl 2:12). Veja, aqui Paulo diz que a salvação já é dos eleitos quando diz "a vossa salvação", mas que mesmo assim, devemos operá-la. Ou seja, precisamos operar o que já é nosso e não operar ou produzir PARA a salvação ser nossa.

Fica então claro que o homem não produz PARA a sua eleição e salvação, pois, se produzisse, tal homem teria motivos para se gloriar dizendo : " eu escolhi a Deus". No calvinismo tais motivos não existem visto que, para esta cosmovisão,  Deus é o único que produziu PARA a nossa eleição e salvação.

Soli Deo Gloria

Álvaro Rodrigues


terça-feira, 13 de maio de 2014

Uma réplica ao Zwinglio Rodrigues



Relutei, mas resolvi replicar as respostas dadas pelo Zwinglio[veja a fonte Aqui] ao meu artigo " A incoerência da graça preveniente e da regeneração parcial no arminianismo". Colocarei as falas do Zwinglio com as devidas respostas abaixo.


ZWINGLIO DIZ : Todo cuidado com o mal entendido é pouco. De fato, a graça preveniente sobrenatural já atua em todos os homens via sacrifício vicário e obra do Espírito Santo enviado ao mundo. No entanto, ainda não se trata da graça preveniente em sua operacionalidade salvífica, coisa que ocorre apenas sob a égide da pregação do Evangelho.

RESPOSTA : Aqui o amado irmão arminiano afirma que há uma graça estendida a todos, até mesmo sobre aqueles que não tiveram a oportunidade de escutar a pregação do evangelho. Ok. Mas já que a graça só opera de forma salvífica sobre os que foram atingidos pelo evangelho queria saber então qual seria a finalidade desta graça ser estendida àos homens que nunca ouviram ou ouvirão o evangelho. Ela tem a finalidade de fazer com que estes homens ganhem benefícios temporais? Se assim for, estou de acordo. Afinal, creio que Deus, através do sacrifício de Cristo, tem garantido benefícios de ordem natural-temporal para todos sem exceção.



ZWINGLIO DIZ : “Regeneração” em Armínio é uma “forma” de regeneração e não a “regeneração” presente em qualquer ordo salutis, estrutura pensada posteriormente a Armínio. Portanto, mesmo que autor do artigo em foco diga que a “regeneração” é parcial para Armínio, é bom entender que “regeneração” não tem o mesmo sentido atribuído ao termo hoje. A palavra “regeneração” em Armíno é usada de modo diverso para indicar várias coisas. Exemplo: a experiência de vivificação do novo homem seguida da morte do velho homem. Sugiro àqueles que desejam objetar às ideias do teólogo reformado Tiago Armínio, cuidado na análise de seus escritos.


Por que faço tal observação? Para que não se conceba a experiência da conversão como um fato estabelecido no excerto arminiano, pois ali o sentido é diferente do modo como calvinistas usam a palavra “regeneração” como antecedente da fé.

Minha antecipação aqui – que julgo ser criteriosa por razões óbvias – tem a ver com o leitor que está lendo minhas considerações.



RESPOSTA :  Sim. Eu sei que a regeneração antes da fé pregada por Armínio não é propriamente a regeneração como hoje denominamos de “novo nascimento” ou "vivificação completa". É justamente por isto que usei o termo “regeneração parcial” . Mas vamos lá, primeiro que não existe qualquer tipo de “regeneração parcial” ou "mudança parcial"  na escritura. Ou o homem é de fato mudado(nascido de Deus)  ou não é. Não existe nenhum tipo de vivificação, transformação ou mudança parcial na bíblia. O arminiano poderá escolher o termo que quiser, mas jamais encontrará respaldo bíblico para um espécie de " regeneração parcial" .


ZWINGLIO DIZ : Tal afirmação é capciosa e não decorre do fragmento de Armínio discutido pelo nobre articulista calvinista. Vou corrigi-la. Armínio nunca defendeu que a salvação está em último plano nas mãos do homem, mas ela é produto inteiramente da graça de divina. A afirmação questionada é presumida e nada mais.

RESPOSTA: Sim. No arminianismo a salvação está nas mãos do homem. A eleição e salvação do homem, na perspectiva arminiana, dependerá do "sim" humano. Negar isto não fará sentido. O homem no arminianismo pode ser definido como o co-autor da eleição. Pois é ele que produz com Deus a sua própria salvação. Deus é o que concede a "graça ajudadora", mas a decisão final está nas mãos do "soberano" homem.

Mas diferente do arminianismo, a cosmovisão calvinista é monergista. Ou seja, a salvação é de Deus do começo ao fim( Hb 12:2). Claro, não negamos que o homem deve crer. Mas, tal ato é resultado da eleição eterna e não o contrário(At 13:48 ). Até porque não somos ovelhas porque cremos, mas cremos porque somos ovelhas(Jo 10 )

ZWINGLIO DIZ : Erro?! “[...] a verdadeira luz que, vinda ao mundo, ILUMINA a todo homem” (Jo 1:9) não é um erro. Negar o brilho universal desta LUZ é que é um erro. Agostinho, o teólogo de Calvino, cria numa gratia praeveniet estimuladora de todo bem imaginado e desejado pelo homem. Está aí “uma graça estendida a todos”. Poder especial salvífico, repito, apenas pela pregação das Boas Novas de salvação.

RESPOSTA :  Primeiro é preciso esclarecer que  a "Luz que ilumina a todos os homens" nem de longe pode ser entendida como uma prova de que todos os homens da terra estão convencidos de que precisam de Cristo. Pois, e quanto aqueles que nunca ouviram nada a respeito da salvação por Cristo? Será que esta Luz ou graça salvífica é estendida a eles? Claro que não ! Aqui, até o  próprio arminiano, o qual replico, nega a existência de graça salvífica à parte do evangelho quando diz " Poder especial salvífico, repito, apenas pela pregação das Boas Novas de salvação".

Mas eu não nego que Cristo é a luz de todos os homens. Mas em que sentido? Primeiro devemos considerar o estado de depravação e cegueira naturais do homem, e Cristo como sendo a Luz. Agora uma simples analogia : quando falta luz na casa de um cego, e de repente a luz volta, o cego de forma alguma deixou de ser cego; ele(o cego) continua não enxergando mesmo com a vinda da luz. Da mesma forma é o homem que é confrontado pelo evangelho. Cristo é a Luz por meio do evangelho, e o homem é o cego que não consegue enxergar a Luz que chegou até ele.

Calvino também traz uma interessante ilustração a este respeito, vejamos :

"Porque, assim como em sua criação do mundo Deus derramou sobre nós a resplandecência do sol e também nos muniu de olhos para que pudéssemos contemplá-la, também, em nossa redenção, ele resplandeceu sobre nós na pessoa de seu Filho, por intermédio de seu evangelho, mas que seria tudo em vão, uma vez que somos cegos, a não ser que ele iluminasse também as nossas mentes, por intermédio de seu Espírito. De forma que o seu pensamento é que Deus abriu os olhos de nosso entendimento."João Calvino, comentário de 2 Coríntios, Editora Fiel 2008, págs. 116-117.



ZWINGLIO DIZ : Não! Mil vezes, não! O homem deixa a condição de “morto em delitos e pecado” apenas no ato da pregação do Evangelho. Nesse instante a graça preveniente se manifesta de forma poderosa e intensa. Antes disso, os cegos espirituais continuam perambulando pelas avenidas de minha cidade. Depois de ouvirem a mensagem e resistirem-na, retornam ao estado antigo.

Ontem mesmo estive com um que parece não se cansar de resistir ao Espírito Santo. No livro O Alienista, de Machado de Assis, ficamos sabendo, refletindo sobre a experiência do psiquiatra Simão Bacamarte, que “anormal” é a ausência de loucura. Quero dizer que nunca faltarão os loucos que atribuirão ao Evangelho algum tipo de loucura. Maior louco é aquele que entendeu e rejeitou. De acordo?



RESPOSTA: É interessante como o nobre arminiano se esforça para negar o que explicitamente a Escritura ensina. Veja até que ponto ele chega. Ele aqui argumenta que o pecador quando escuta a pregação do evangelho deixa o estado de “morto em delitos e pecados”. Ou seja, para ele antes da pregação o homem está morto, mas quando escutou o evangelho ressuscitou; porém quando negou o evangelho morreu de novo. É um estado de morto-vivo, vivo-morto. Para o arminiano, uma pessoa que escutou o evangelho, por ter sido alvo da regeneração parcial, “não se encontra morta em delitos e pecados” pois entende o evangelho. Mas, quando rejeita o evangelho que entendeu, volta a não entender, afinal, morreu espiritualmente de novo. Existe algo mais sem sentido do que isto?

Quanto ao chamado, a  bíblia  claramente ensina que é interno e externo. O chamado externo, que é através da pregação, não remove a cegueira do homem; quem faz isto é o Espírito Santo no ato da regeneração. Este ato é justamente a transformação do coração e da mente do homem natural. É a entrega de um novo coração; um coração de carne que é disposto a obediência(Ez 37). O chamado interno é o que os calvinistas denominam de "graça irresistível". Ela é irresistível nos eleitos no sentido de que é eficaz e certa. Este chamado ocorre justamente por ocasião do ato do Espírito Santo em convencer aqueles que o Pai elegeu em Cristo para a salvação.(Jo 6:44, 1 Co 1:24, Rm 8:30).

Como também até concordo que é "loucura" rejeitar algo que eu entendo. Mas também não é ilógico crer que o evangelho é loucura para os incrédulos por justamente este evangelho não fazer sentido para eles. De acordo?


ZWINGLIO DIZ : O arminianismo não prega que o Espírito Santo tem convencido a todos.Todos tem ouvido a pregação do Evangelho? Isso é mais que a pregação do Evangelho do reino por todo o mundo.Então é hora do fim, pois no evangelho mateano diz que depois de pregado o Evangelho do Reino a toda criatura virá o fim.Por onde anda o fim?! Já expliquei que a graça preveniente está sobre o homem, mas que ela é intensificada para salvação pela prédica do Evangelho. O amigo calvinista precisa revisar suas leituras.

RESPOSTA: E eu não afirmei que no arminianismo o Espírito Santo tem convencido a todos os homens da terra. O que afirmei foi que "o ensino da graça preveniente leva inevitavelmente a conclusão de que não existem mais os cegos espirituais e que agora todos ENTENDEM O EVANGELHO, pois todos foram alvos desta graça. Ora, se TODOS OS QUE ESCUTAM ENTENDEM ESTE EVANGELHO, onde estão os que acham LOUCURA ESTA PREGAÇÃO? ".

 Ou seja, eu disse que no arminianismo Cristo tem convencido a TODOS sem exceção que ESCUTAM O EVANGELHO. No entanto reconheço que deveria ter especificado melhor no artigo e ter tido feito a distinção de "todos" os que segundo o arminianismo são convencidos.

Mas se eu preciso rever minhas leituras o arminiano precisa urgentemente revisar a leitura da própria Escritura.


ZWINGLIO DIZ: Pensando que entendi o excerto acima, comento. Ora, escutar e dizer que o Evangelho é sem sentido não significa dizer que não foram entendidas a mensagem e suas implicações. Apenas revela objeção e negação de probabilidade que as coisas sejam como o Evangelho diz ser. Para os gregos eles estavam diante de uma insensatez. Judeus e gregos encaravam a mensagem do “Cristo crucificado” por diferentes ângulos.

RESPOSTA : Aqui é bom esclarecer que o "não entender o evangelho" é simplesmente a ratificação de que os homens estão de fato "mortos em seus pecados". Já quando eu digo que eles "entendem" eu só tenho duas opções : ou eles entendem porque estão vivificados, ou por estarem parcialmente vivificados. A primeira opção é biblicamente sustentável, já a segunda carece no mínimo de um só versículo para a sua sustentação.


ZWINGLIO DIZ : Ao longo de minha resposta creio estar deixando claro que o conceito de graça preveniente no arminianismo não é inconsistente, pois ela está amalgamada ao Evangelho que é “o PODER de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” João 16:7-11 é enfático ao dizer que o Espírito Santo “convencerá o mundo (pessoas)” do seu estado de pecado, de merecido juízo e da justiça do Cristo crucificado. Quem fala é o Espírito Santo pelo Evangelho e tal convencimento não pode ser algo de caráter externo. Todos foram chamados como afirma meu interlocutor, porém, a eficácia fica condicionada a não resistência da graça (At 7:51). Em João 16:1 os calvinistas terão que reduzir mundo a um tal de “mundo dos eleitos”, pois apenas assim seu construto soteriológico poderá ter alguma chance de subsistência. No entanto, João usa “mundo” como uma metonímia significando “os habitantes da terra”.

RESPOSTA: Errado. A sua resposta está deixando mais evidente de que a graça preveniente no arminianismo é totalmente inconsistente. E é interessante o arminiano citar que o evangelho é o poder e salvação para todo o que crê. Sim, o calvinismo concorda totalmente com isto. A salvação é para os que creem e não para os réprobos. Também é interessante ele usar o texto de Jo 16 7-11 que diz "que o Espírito Santo convencerá o mundo" e dizer que "os calvinistas terão que reduzir mundo a um tal de “mundo dos eleitos”, pois apenas assim seu construto soteriológico poderá ter alguma chance de subsistência". Ora, mas a redução também é feita pelo arminiano que me replica . Afinal, nem mesmo ele concorda que há convencimento para a salvação à parte do evangelho. Ou seja , só são convencidos os que escutam o evangelho e não todos os homens da terra. Até porque nem todos os homens tiveram ou tem acesso ao evangelho.

 Mas é sempre bom lembrar que, além da pregação do evangelho, se faz necessário o chamado interno, que é justamente o convencimento do Espírito Santo. Ai de nós se não fosse este convencimento; até hoje estaríamos sem entender que o evangelho é o poder de Deus. Assim sendo, nem mesmo no arminianismo a expressão "convencerá o mundo"  é uma referência a todas as pessoas do mundo, mas sim a todos os que foram alcançados pela pregação. Aqui se nota que para o arminiano o termo "mundo" nem sempre significa "todas as pessoas da terra".


ZWINGLIO DIZ: Romanos 8:30 fala sobre o efeito da obra do Espírito na vida dos que foram “conhecidos de antemão” (v. 29). São os salvos por “presciência”. O chamado só é eficaz porque houve arrependimento e fé precedentes e antevistos.Tal chamado é pela prédica do Evangelho sim, pois está escrito: “vinde a mim todos vós que estais cansados, sobrecarregados e oprimidos.” Sempre é pelo Evangelho, é para todos, e o Espírito Santo atua no íntimo de todos.

Apenas os que não conhecem o arminianismo clássico dirão isso. Armínio falou sobre “regeneração” parcial, mas fez isso dando ao termo um sentido lato sempre dependendo do que ele desejava dizer.


RESPOSTA : Aqui o arminiano apela para interpretação que diz que os "conhecidos de antemão" é com referencia a presciência da fé. Tudo isto para dá base a ideia de eleição baseada em fé prevista. Mas vamos lá, primeiro que o termo "conheceu de antemão" não diz que a escolha de Deus é baseada na fé prevista. O termo 'conheceu" significa dizer que Deus "amou de antemão;  "conhecer" significa "amar intimamente". O mesmo termo é usado em Amós 3:2 para referir-se a eleição de israel no passado. O texto diz que "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; '. É Claro que o conhecer de Deus aqui é "amar intimamente". De todas as nações da terra Deus só amou israel (Jr 31: 13). A escolha de Deus por israel não estava baseada em obediência prevista, muito pelo contrário, a escolha estava baseada no amor de Deus por israel, ou seja, Deus amou israel incondicionalmente(leia Dt 7:7-8).

No novo testamento vemos o mesmo termo diversas vezes. Em 1 Ts 4:5 Paulo diz que " os gentios não conhecem a Deus". É claro que isto é referente ao não-amor dos gentios para com Deus. O apóstolo escrevendo a Tito diz que existia dentro da igreja muitos falsos crentes que diziam " conhecer Deus, mas que negavam com as obras". Ora, o que é  isto senão o falso amor? Aqui está falando de pessoas que diziam ter um 'relacionamento intimo" com o Senhor, mas que as obras mostravam o contrário. Disto conclui-se que "conhecer de antemão" quer dizer que Deus amou de antemão os eleitos. E são estes os quais Ele amou que são alvos do chamado interno e eficaz. No entanto é claro que Deus tem presciência de todas as nossas ações, porém isto é muito diferente de afirmar que Deus elege baseado em alguma coisa ou ação minha. A eleição está baseada exclusivamente no "beneplácito da vontade de Deus" ( Ef 1:5). Já a presciência bíblica está atrelada ao decreto soberano de Deus.(At 2:23, 4:27,28)



ZWINGLIO DIZ : Acima disse que arminiano clássico algum cogita estar a salvação na mão do homem em qualquer plano que seja. A afirmação acima é precipitada; uma perfeita eisegese de qualquer escrito de Armínio que o crítico tenha lido.

Nota-se a estreiteza como o escritor trabalha a questão do sinergismo. Arminianos clássicos são sinergistas evangélicos que admitem apenas uma causa eficiente e uma causa instrumental de salvação, a saber, respectivamente: a graça e a fé. O aspecto meritocrático humano “encontrado” na teologia arminiana fica por conta de pessoas repletas de má vontade hermenêutica. Para nós até a habilidade cooperar com Deus é doada pelo Eterno. Poder, capacidade e eficácia da salvação, como o início o progresso e a confirmação pertencem a Deus. Nada sobra para o homem.


Dizer não ou dizer sim foi, é e sempre será fundamental para se receber qualquer presente, óbvio. No caso do Presente, que está completo e acabado, a mesma coisa.


RESPOSTA: Novamente o arminiano tenta se esquivar das consequências lógicas da doutrina arminiana. Está claro que na soteriologia arminiana a última palavra é a do homem e não a de Deus. É O HOMEM QUEM DECIDE SER ELEITO OU NÃO. E sendo o homem o real confirmador da eleição podemos dizer que no arminianismo a salvação é de Deus e do homem. De Deus que capacita, e do homem que dá a última palavra.

Agora, considerando que o próprio Cristo ensinou que as nossas decisões e escolhas são determinadas pela nossa condição interior quando disse"uma árvore boa dá bons frutos, uma árvore má dá maus frutos"(Mt 7:17) me diga o arminiano o que causa o "sim" ou o "não"(como resposta ao evangelho) de uma pessoa que pela graça preveniente se encontra em estado de neutralidade? Se disser que o que causa o "sim' é a "obediência" o problema continua, até porque a obediência é o fruto de uma boa árvore; ou seja de uma pessoa totalmente regenerada. Se disser que o que causa o "não" é a desobediência teremos problemas também, afinal a desobediência é fruto de uma árvore má; ou seja, de uma pessoa não-regenerada. A verdade é que biblicamente o que causa a decisão da pessoa não é nenhum livre-arbítrio libertário; mas sim a natureza interior do homem. Ou seja, se o homem diz "sim' ao evangelho é porque foi regenerado pelo Espírito Santo(árvore boa), mas quando diz "não" é porque não foi regenerado. NÃO EXISTE MEIO TERMO.

Agora quanto a questão do presente,  realmente uma pessoa não tem mérito em simplesmente recebê-lo, porém o que é dado a pessoa é o presente e NÃO O DESEJO DE TÊ-LO. Logo, uma pessoa que aceitou o presente ao lado de outro que não recebeu poderá dizer : Ei você é um mané, não recebeu o presente PORQUE NÃO QUIS, já eu recebi PORQUE QUIS, EU TOMEI A DECISÃO CORRETA E VOCÊ NÃO . Ou seja, você ainda terá motivos para se vangloriar, por ter tomado a decisão correta e o outro não. Você poderá dizer, veja como fui esperto " eu quis" e ele não!

Soli Deo Gloria

Álvaro Rodrigues






quinta-feira, 8 de maio de 2014

Romanos 1:18-21 contradiz a depravação total?




Romanos 1:18-21 é constantemente utilizado por certos intérpretes da bíblia na intenção de objetar a doutrina bíblica da depravação total. Estes intérpretes argumentam que o texto em análise "defende claramente a ideia de que o homem pode, através da criação, entender a vontade do Deus Verdadeiro, como também ser salvo sem mesmo ter ouvido o evangelho". Mas a questão é: será este o verdadeiro sentido do texto ? O Apóstolo Paulo defendia a ideia de que o homem poderia, ou pode ser salvo, mesmo sem nunca ter ouvido o evangelho ? Isto é o que veremos.

Romanos 1:18-21 diz : " Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu."

Em primeiro lugar, o texto em nenhum momento defende a ideia de que todos os homens estão cientes de que o Verdadeiro Deus, é o que é revelado pela Escritura. O texto simplesmente diz que as "coisas criadas" revelam e comprovam a existência de Deus. Mas, por se encontrarem "mortos em delitos e pecados"(Ef 2:5), os homens acabam por interpretar de forma distorcida a revelação de Deus através da criação. O versículo 23 testifica isto quando diz que estes homens "mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis". Tal é a depravação e cegueira do homem natural, que ele acaba por não conseguir entender esta revelação geral de Deus através da criação, e acaba criando ídolos para si.

Em segundo lugar, devemos entender que, se eu defendo a ideia de que todos os homens, através da criação, entendem a vontade de Deus, terei também de admitir que todos os homens estão vivos espiritualmente, e que já não há mas os cegos e mortos espirituais. Só que tais ideias contradizem as Escrituras e o que o próprio Apóstolo Paulo ensinou. Ora, na mesma carta que diz que a criação revela a existência de Deus, afirma também que "Não há ninguém que entenda;Não há ninguém que busque a Deus. (Rm 3:11). Logo, se acreditamos que a escritura é a inerrante palavra de Deus, não poderemos crer que o texto em análise esteja ensinando a ideia de que "todos entendem a vontade de Deus".

Mas se ainda alguém insiste em defender que todos os homens através da criação entendem que o Deus da bíblia é o Deus Verdadeiro, não precisaríamos do Espírito Santo. Afinal, se a criação por si mesma faz com que os homens entendam a verdade, o Espírito Santo não seria necessário. Mas sabemos que Ele é necessário; pois é Ele que nos convence do pecado, da justiça e do juízo, e não a criação de Deus.(Jo 18:8)

Em terceiro lugar, devemos distinguir as formas de revelações de Deus. Existe a revelação geral e a revelação específica. A primeira refere-se justamente a Deus se revelando através de sua criação; enquanto que a segunda refere-se a Escritura e o próprio Cristo que é a suprema revelação de Deus, que através do Espírito Santo, vivifica(regenera) e convence os homens para que estes compreendam que o Deus que fez todas as coisas é o Deus Único que é revelado pela Escritura.

Em quarto lugar, se o texto prova alguma coisa ele prova justamente a depravação total, quando diz " ..antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu(vers:21)". E quando também diz "E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis(vers:23). Aqui claramente está comprovada a depravação do homem. É crendo na depravação total que a ação regeneradora do Espírito Santo ganha sentido.

Em quinto lugar, entendemos também que o texto em lugar nenhum ensina que há salvação por meio da criação. Muito pelo contrário, a salvação é exclusivamente por intermédio de Cristo. Ele é o único caminho para a salvação(Jo 3:16). Aqueles que nunca ouviram o evangelho não serão salvos, pois claramente a escritura ensina que Deus decretou salvar os crentes pela pregação do evangelho(1 Co 1:21). Crer que haverá salvação para aqueles que nunca ouviram o evangelho é crer que há outros caminhos para a salvação além de Cristo. Como também, se todos os que não tem o conhecimento do evangelho estão automaticamente salvos, qual seria a necessidade de preparar evangelistas para o campo missionário? Pra quê se preocupar com as nações que nunca ouviram o evangelho se elas automaticamente estão salvas?

Em último lugar, o que o texto nos quer transmitir é justamente o ensino de que os homens são indesculpáveis diante de Deus. Não são indesculpáveis porque eles compreenderam através da criação que o Deus da bíblia é o Único e Verdadeiro, mas sim por "deterem a verdade em injustiça"(vers 18) justamente por estarem mortos em delitos e pecados(Ef 2:8).

Diante disto, entendemos que Rm 1:18:21, em nada contradiz a doutrina reformada da depravação total. Muito pelo contrário, é um ótimo versículo para testificar tal doutrina.


Soli Deo Gloria

Álvaro Rodrigues