sábado, 16 de janeiro de 2016

A impossibilidade e auto-contradição do relativismo


Relativismo é a crença de que a verdade objetiva e valores éticos e morais absolutos não existem, mas que os valores morais são frutos de convenções sociais de cada cultura em particular. Em outras palavras, o relativismo apregoa que "é falsa a crença de que os conceitos de bem e mal  podem ser definidos objetivamente, isto é, de forma absoluta". Para o relativista, o bem e o mal são definidos por cada cultura em particular. Desta forma, para o relativismo, certa ação tida como um "bem" para determinada cultura, pode ser, para outra cultura, um mal. De forma que cada cultura teria suas verdades em particular e que tais verdades não poderiam ser impostas à outras culturas, e que muito menos seria correto certa cultura julgar ou criticar as concepções de ética e moralidade de uma outra determinada cultura. Entende-se, no relativismo, que a cultura ou determinado contexto social seriam os definidores do que seria considerado certo e errado. Podemos então resumir nossa definição afirmando que o relativismo é a negação total da existência de um padrão ético e moral universal, ou que se aplique à humanidade no geral.

Definido em poucas linhas o que é relativismo, partiremos para o objetivo deste pequeno texto que é demostrar as implicações irracionais do relativismo, sendo ele posto em prática ou não. Como também, demostrar que tal cosmovisão é falsa e auto-destrutiva, pois seu princípio primeiro, que serve de fundamento para as outras proposições da cosmovisão, é falho e auto-contraditório.

 Para facilitar e ser mais preciso, coloraremos  4 das proposições mais comuns e utilizadas pelos relativistas:

1. Os valores morais e éticos são resultados de acordos sociais em um determinado contexto cultural.

2. A verdade absoluta não existe, ela é subjetiva à cada cultura

3. Uma cultura não pode criticar outra determinada cultura, e muito menos impôr seus valores particulares sobre ela.

4. A existência de vários princípios morais e éticos diferentes  se estabelece como a prova de que a verdade é relativa

(1) O relativista, quando usa a primeira proposição, coloca os acordos sociais como o fundamento daquilo que se deve considerar como certo ou errado. Mas há um problema aqui. Se  o fundamento da moralidade, isto é, do que pode ser considerado certo ou errado são os acordos sociais entre pessoas, e em especial as convenções impostas por um determinado governo, este então parece ser um péssimo e falho fundamento. Ora, se os acordos sociais são feitos por homens falíveis, este fundamento(acordos sociais) pode ser falível também. Sendo assim, por que eu deveria aceitar e ter como verdadeiro este fundamento, sendo que ele é construído por homens que são falíveis iguais a mim?  Nada nos garante que este fundamento, e o que foi definido por ele  como bem ou mal, estejam corretos. Desta forma, a base do relativismo para a negação da verdade e dos valores objetivos é falha e incerta; daí surge a necessidade de um fundamento transcendente e auto-autenticado. Além disto, a afirmação de que "o certo e o errado são resultados de convenções sociais", é posta como uma verdade absoluta para alguns relativistas, o que é um "tiro no pé" da própria cosmovisão deles.

(2) A segunda proposição é auto-contraditória, pois a afirmação de que "a verdade absoluta não existe" é colocada como verdade absoluta. Alguns relativistas, percebendo a contradição, afirmarão que esta proposição("verdade absoluta  não existe") também é relativa. Porém isto não resolve o problema do relativista, porque se é relativa a afirmação de que "a verdade absoluta não existe",  não saberíamos em que contexto  ela seria aceita e aplicada, como também, cairíamos em uma regressão sem fim, e o relativismo já não mais teria como ser justificado. 

(3) A terceira proposição é bastante utilizada em nossas universidades que promovem descaradamente esse relativismo moral, ético e cultural. Mas, da mesma forma que as primeiras proposições, esta tem seus problemas. Primeiramente, se nenhuma cultura pode ser criticada, então nem mesmo culturas que promovem valores contra a integridade humana poderão ser criticadas. Em segundo lugar, mesmo que o relativista assuma o equivoco dessa proposição e reconheça que a integridade humana deve ser sempre preservada, ele ainda teria de justificar  porque o ser humano tem direito a ter sua integridade preservada. Por qual padrão os seres humanos devem ter sua vida e integridade preservadas? Se o relativista utilizar o padrão das convenções sociais, ele estaria, por definição, impondo uma convenção particular de determinada cultura, que  preservar o direito à vida, sobre outra determinada cultura que não preserva este direito. Agindo assim,  o relativista estaria contradizendo a sua própria proposição em análise.

(4)
 O relativismo ensina que  várias pessoas podem chegar a uma conclusão diferente sobre determinado fato, e que isto, por definição, favorece a ideia de que não existe uma verdade objetiva universal, mas que existem verdades particulares ou subjetivas.  Entretanto, o fato da existência de culturas com seus divergentes valores morais e éticos não é a comprovação de que o relativismo é autêntico. As diferenças de valores morais e éticos apenas comprovam "divergências" de valores, nada mais. Além do mais, poderíamos retrucar afirmando que "muitas pessoas podem divergir sobre algo, mas que isto não anula a possibilidade de que apenas uma delas esteja correta e as outras erradas".  Sendo assim, a quarta objeção não faz o menor sentido; ela é uma conclusão precipitada.

A verdade clara que muitos relativistas insistem em não querer enxergar é o fato de que eles não tem um bom fundamento para sustentar sua cosmovisão. O relativismo nega  a realidade de uma verdade objetiva e universal; esta negação é a causa de sua cosmovisão ser irracional e auto-contraditória. Alguns relativistas tem entendido isto, mas muitos deles tem abraçado outra visão de mundo que também não é satisfatória; refiro-me ao cepticismo. O cepticismo se resume na crença de que "a verdade não pode ser conhecida". Só que como o relativismo, o ceticismo é auto-destrutivo, pois também está pressupondo que a sua afirmação "a verdade não pode ser conhecida" é verdadeira. 

É por tudo isto já descrito que surge a necessidade da crença em um Ser que transcende a realidade física e natural. A estrutura da criação demostra a existência deste Ser. Este Ser estruturou toda a ordem cósmica existente; de forma que  o fundamento da realidade se encontra neste Ser que facilmente se faz conhecido. Este Ser deve ser o padrão Absoluto e Auto-autenticado, isto é, um ser racional, lógico e sem contradições em si mesmo. Este Ser só pode ser o Deus Bíblico, que com seus padrões e leis se estabelece como o princípio primeiro e último que dar sentido a toda a realidade. É Ele quem define o que é moralmente aceitável ou reprovável. É Ele que fundamenta o direito à integridade dos homens . A definição dos termos e das coisas não vem dos homens, mas do Deus que é superior e criador dos homens. Este Deus é o padrão e fundamento primeiro e último, auto-autenticado, pois não existe um ser superior a Ele. Este Deus se auto-justifica, quando diz "Eu Sou o que Sou"(Êx 3:4). E também quando diz: " Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus"(Is 45:5). As divindades de outras religiões não podem ser o fundamento da realidade, visto ser elas divindades que contradizem umas às outras. A racionalidade do cristianismo joga por terra quaisquer filosofias e cosmovisões existentes.

Observação: Não ofereceremos neste texto uma defesa exaustiva do cristianismo ou do Deus bíblico em comparação com outras filosofias e religiões em particular. Faremos isto em uma outra oportunidade. A preocupação do texto é de apenas demostrar a irracionalidade do relativismo.

Por último, não é precisa ser  teólogo ou especialista bíblico para entender que a cosmovisão relativista é totalmente antagônica ao cristianismo. Cristãos que buscam esta conciliação são desobedientes ao testemunho de Cristo descrito em João 14:6. As razões para se rejeitar o relativismo já foram expostas, cabe ao cristão sincero abraçá-las. O convite se estende ao não-cristão; o cristianismo bíblico é capaz de satisfazer o intelecto de qualquer estudioso sincero que almeja conhecer a verdade.

Soli Deo Gloria

Álvaro Rodrigues