quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Conservador, mas não Legalista




Não podemos negar que, no esmerado zelo para manter os padrões santos da Igreja frente a ameaça mundana que bate à nossa porta, muitos dos nossos tem aberto as portas ao legalismo e negligenciado a graça. A graça é a manifestação do amor de Deus. É doutrina eterna (1.º Co. 13.13; Tt. 2.11). Este o grande diferencial do Cristianismo das religiões deste mundo.

A luta pela preservação dos marcos antigos tem respaldo bíblico (Dt. 19.14) , mas muitos tem abusado desse respaldo para criar preceitos além da Bíblia. Pior: para supervalorizar a tradição em detrimento da graça.

Sou assembleiano desde o berço. Aprendi na infância a diferença básica entre doutrina e costume . Enquanto aquela é eterna e universal, este é temporal e regional. Aprendi também que uma boa doutrina gera um bom costume. Este é o abecedário que tem marcado a característica de nossa gloriosa Igreja ao longo desses 90 anos.

A Doutrina Bíblica é sistêmica. Não é pré-textual. Não se pode pegar uma citação bíblica de uma carta paulina e aplicá-la como doutrina, sem estabelecer uma relação de tal citação com toda a Bíblia. Por exemplo, a expiação é uma Doutrina porque, uma vez confrontada ao longo da Bíblia, vamos verificar que ela encontra respaldo com o sacrifício que Deus fez para vestir o homem e a mulher (Gn. 3.21), com o Cordeiro que Deus providenciou para substituir Isaque (Gn. 22.8,13), com o Sistema Levítico (Lv. 16) e finalmente com a Cruz de Cristo (Jo. 1.29; Rm. 3.24). Se determinada recomendação não é compatível com Sistema Bíblico, não é doutrina. Poderá ser pretexto ou, no máximo, costume.

A observação sectária de costumes sem a compreensão e aplicação da graça e do amor é inútil. Pasmem! mas tal deslize é consuetudinário em nosso meio. Essa visão equivocada é tão viva entre nós que invertemos a ordem das coisas. Por exemplo, quando falamos da tríplice constituição do homem, ao invés de falarmos espírito, alma e corpo, falamos corpo, alma e espírito. Isto é uma demonstração clara de que valorizamos excessivamente o exterior do corpo. A santificação exigida em 1.º Ts. 5.23 começa no espírito e prossegue até o corpo. Isto indica que a obra do Espírito começa realmente no interior e não acontece sempre simultaneamente na alma e no Corpo. A mudança exterior antes da mudança interior é anomalia religiosa, não é santificação.

A obra do Espírito na vida da pessoa que se entrega a Cristo é perene. Temos facilidade de fazer juízo de valor sobre determinado irmão porque ele não se adéqua aos nossos estereótipos clericais e não vemos que o Espírito Santo se move em seu interior. Tentamos criar limitações à graça de Deus com prerrogativas não-bíblicas, pois só somos ‘espirituais’ para observar o exterior. Se este estiver de acordo com o que pensamos, tudo bem. Alguém pode dizer que o exterior reflete o interior, mas não essa visão que Jesus teve dos fariseus ao chamá-los de Sepulcros caiados (Mt. 23.27). Nem sempre o exterior reflete o interior. Jesus não quer somente o coração, como dizem os liberais. Ele nos quer por inteiros. Mas não adianta nada Ter um exterior “enquadrado” e Ter um interior sem graça e amor.

Legalismo no sentido literal é o apego à letra, das proibições impostas pela norma. Os legalistas acham são salvos, por esforço próprio, porque deixaram de fazer isto, de tocar naquilo de não vestir aqueloutro ou de usar o cabelo dessa ou daquela forma, e assim minimizam a graça. Alguém preceitua que tal comportamento é a diferença entre o justo e o ímpio, mas a Bíblia diverge dizendo claramente que a diferença entre o justo e o ímpio é que enquanto este pratica obras da carne, aquele produz o Fruto do Espírito: amor, gozo, paz, longanimidade, bondade, benignidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl. 5.22). Este é o verdadeiro sinal do salvo. O legalista é capaz de desprezar alguém simplesmente por não está ‘enquadrado’ em seu sistema, não obstante ter esse alguém as características maravilhosas do Fruto do Espírito. Assim, comprovasse quão mortífero é o caldo do legalismo, como diz Malcolm Smith.

Basicamente as disciplinas legalistas se baseiam no exterior. Você já viu alguém ser discipinado por inimizade? por maledicência? por inveja?, por facções grupinhos na igreja? Alguém já foi cortado da comunhão porque não ama a seu irmão? Agora tenho certeza que você conhece pelo menos um caso em que uma pessoa foi disciplinada por uma conduta que jamais seria motivo de Jesus discipliná-la. Ah mais isto é Jesus! Mas não é a ele que dizemos imitar?

O legalismo deixa de praticar determinada conduta para obter méritos diante de Deus. O homem espiritual deixa de praticar a mesma conduta para agradar a Deus. O legalista jamais pode ser espiritual, pois no seu íntimo pensa em seus esforços como mecanismo de se chegar a Deus. O homem espiritual reconhece sua fraqueza e inutilidade, sabe que só pode chegar a Deus por causa da Graça. Philip Yancey conceituou bem esse aspecto: “Não há nada que eu possa fazer para Deus me amar mais. Não há nada que eu possa fazer para Deus me amar menos”. Mas o legalista insiste: “eu tenho que pagar o preço”. Como diz o irmão Francisco Daniel, o espiritual prega a “Doutrina” (conteúdo bíblico que produz vida), o legalista prega a “Dotrina”, (preceitos baseados no exterior).

O homem espiritual preocupado com a pressão do mundo à porta da Igreja, resiste contra o mundanismo e resiste na fé, pregando a Palavra e a mudança interior, para que, produzindo o Fruto, o cristão possa dizer não àqueles que querem converter a graça em dissolução. A ação desse homem é pelo Espírito. Este é o conservador.

De pronto rejeito o liberalismo, mas quero dizer que o cristão autêntico é conservador e espiritual. O legalista é apenas conservador, dizima a hortelã, o endro e o cominho, mas esquece a justiça, a misericórdia e a fé (Mt. 23.23). Sejamos conservadores, mas nunca legalistas.


Jossy Soares é cristão, membro da Agência Pés Formosos e advogado em Cuiabá-MT.

Fonte : http://www.pesformosos.org.br/?pg=ver_artigo&id=404&t=conservador-mas-nao-legalista

2 comentários:

  1. Tudo o que precisa ser conservado, DEVE ser conservado. Tudo o que precisa ser abandonado, DEVE ser abandonado. Tudo o que precisa ser renovado, transformado e amadurecido, DEVE ser renovado, transformado e amadurecido.

    E como filhos de Deus cabe-nos, no Espírito Santo e na Escritura, procurar agradar ao Senhor. Guardando Sua Palavra e fazendo a Sua vontade, a fim de virmos a tropeçar, conservando algo que DEVE ser abandonado, abandonando o que DEVE ser mantido ou tentando transformar, renovar e amadurecer algo que - aos olhos de Deus - está adequado (ou que deva ser abandonado).

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