sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Se Deus é a causa de tudo, quem causou Deus?



"Se Deus é a causa de tudo, quem causou Deus?". Para muitos ateus, essa pergunta representa a  destruição completa do sistema cristão ou religioso no geral. O meu entendimento é que essa pergunta não representa destruição alguma, muito pelo contrário, ela é uma pergunta estúpida e não faz o menor sentido. Em primeiro lugar, não faz sentido afirmar que a causa primeira é causada por alguma coisa. Se a causa primeira é causada por alguma coisa, ela já não mais seria a causa primeira, mas essa coisa que causa a causa primeira torna-se-ia a causa primeira. A causa primeira, por definição, tem de ser incausada, do contrário, não seria causa primeira.

Vários ateus apelam ao argumento de que o universo "sempre existiu, portanto, é incausado" para negar a necessidade de um Deus criador. Ora, se o universo sempre existiu qual a dificuldade em acreditar em um Ser que sempre existiu? Mas, por outro lado, se o universo nem sempre existiu, quem, ou o quê o causou? A primeira matéria, que tornou possível a vida, foi causada ou sempre existiu? Se ela sempre existiu, ela, portanto, é o primeiro princípio(sem causa) do ateu. Logo, a defesa de um princípio não causado não é unanimidade dos cristãos ou religiosos, mas também de muitos ateus ou de qualquer pessoa que tenha, no mínimo, dois neurônios no cérebro. Mas, por outro lado, se algo causou ou originou a primeira matéria, essa matéria já não mais é primeira como causa, mas é causa derivada de uma causa a priori. Mas, e essa causa a priori, quem a causou? E o que causou a causa da causa a priori e, assim, ad infinitum? 

O ateu não tem escapatória, ele tem duas opções: 1.Ou algo é incausado, portanto, é causa primeira. 2. Ou nada é causa primeira, portanto, não há fundamento último para a origem das coisas. Se a primeira opção é abraçada pelo ateu, ele se igualará ao religioso que também defende a existência de um princípio incausado, de forma que, se a pergunta inicial do texto destrói a religião, a visão ateísta também estará destruída. Mas, se o ateu abraça a segunda opção, ele estará obrigado a abraçar uma regressão infinita que destruiria também o seu próprio sistema, pois se a regressão é verdadeira, o universo nem poderia começar. No entanto, o universo começou, logo, ou ele sempre existiu, portanto é incausado, ou o universo "passou a existir", portanto, deriva de uma causa a priori. 

Para o cristão, Deus é a primeira causa, portanto, nada o causou. Deus, sendo atemporal, sempiterno e Todo-Poderoso, é o primeiro princípio do cristão. Todo sistema ou cosmovisão requer um primeiro fundamento; portanto, irracionalidade é negar a existência de causa primeira. O cristão não aceita a regressão infinita de causas, mas também não aceita o universo como causa primeira, pois a matéria finita não pode ser eterna. O que é finito, é, por definição, não-eterno. Além do mais, a regressão infinita de causas tornaria o conhecimento impossível. Mas, à luz da razão, o conhecimento existe mesmo quando o negamos.Quem reivindica a impossibilidade do conhecimento, está reivindicando ter conhecimento da impossibilidade do conhecimento. Sendo assim, o cristão aceita a racionalidade de que a causa de todas as coisas ou da realidade, por necessidade lógica, deve ser auto-justificada, sendo, portanto, maior que a realidade. Deus é maior que a realidade criada, portanto, a causa da realidade criada é Deus.

Soli Deo Gloria

Álvaro Rodrigues

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