Historicamente, a tradição materialista remota aos filósofos pré-socráticos e os estóicos, mas o termo materialismo será empregado mais tardiamente pelo filósofo e matemático Gottfried Leibniz em 1702. Em termos filosóficos, o materialismo irá sustentar que a realidade se limita àquilo que é material; aquilo que é palpável; descartada, portanto, qualquer garantia de uma realidade metafísica , isto é, daquilo que transcende a realidade material. Em outras palavras, é a predominância e precedência da matéria sobre qualquer outra coisa. A matéria é posta como primeiro e último princípio na cosmovisão de mundo dos pensadores materialistas. Deste modo, para o materialista, as proposições denominadas verdadeiras, as ideias, pensamentos, a racionalidade e as leis da lógica com seus princípios necessários são admitidos, mas são meros produtos resultantes de processos físicos da mente humana sem ter necessariamente algum tipo de fundamentação em uma mente superior que transcende essa mente humana, a qual chamamos de mente divina.
Se, de alguma forma, a verdade é admitida pelos materialistas, é preciso agora analisar os motivos pelos quais considero a concepção materialista acerca do conhecimento e da verdade uma concepção equivocada, portanto, irracional. E a resposta encontra-se na própria natureza da verdade. Compreendendo a sua natureza, chegaremos aos motivos que nos pode fazer crer que a concepção materialista de verdade contém em si mesma dilemas e contradições.
Em primeiro lugar, analisemos a ideia materialista de que "a realidade corresponde apenas àquilo que é material e que, sendo assim, não haveria garantias de uma realidade metafísica". O materialismo parece andar de mãos dadas com a teoria epistemológica empirista que sustenta a ideia de que o conhecimento é garantido pela observação através dos sentidos físicos do homem. As garantias empiristas acerca da verdade, evidências etc. são todas colocadas nos sentidos físicos do homem. Para o materialista, como eu sei que existe um mundo físico? A resposta seria "porque estamos vendo um mundo físico em nossa frente". Essa seria a mesma resposta que um empirista daria. Mas, antes de tudo, como eu posso garantir a existência de uma realidade física pelo método empírico? Se os sentidos são falhos e por vezes nos enganam, como devo ter certeza de que o que estou vendo corresponde à realidade? Além das fraquezas dos sentidos, o materialista que adota o empirismo como seu método epistemológico deve lidar com a própria contradição interna de seu empirismo. Se "todo conhecimento e evidência são garantidos pela observação empírica", qual evidência temos de que "todo conhecimento e evidência são garantidos pela observação empírica"? E qual seria a evidência da evidência de que "todo conhecimento e evidência são garantidos pela observação empírica? O materialista empirista, antes de tudo, precisa justificar o empirismo para ter certeza de que suas reivindicações correspondem com a realidade. Do contrário, o que sobraria para eles além de uma regressão infinita de tentativas de justificações? Quando afirmo que todo o conhecimento é obtido pelas sensações físicas, como, antes de tudo, sei que estou tendo uma sensação? É porque estou sentido isto? Mas como posso ter certeza e confiar nos meus sentidos se ainda não foi justificado que eles são boas garantias para a certeza do conhecimento?
Observação: Como cristão, não nego a realidade de um mundo físico e material. Mas a certeza que tenho acerca deste fato pode ser derivada exclusivamente por causa do conhecimento de Deus através de sua revelação. O fundamento do conhecimento é Deus, não os sentidos. Os sentidos apenas fornecem a ocasião para o conhecimento, mas não são a origem dele.
Em segundo lugar, o conhecimento é inescapável, pois ele é afirmado até mesmo quando é negado. Como já dito em outros lugares, o ceticismo é auto-contraditório, pois quem revindica que o conhecimento não pode ser alcançado, está reivindicando ter conhecimento disto. Ora, se existe o conhecimento, é evidente que existe o objeto do conhecimento, isto é, a verdade. A verdade existe, mas como já visto, ela não pode ser derivada do materialismo. Tudo o que é material, é por definição não-eterno, no entanto, umas das definições da natureza da verdade é justamente a sua eternidade. Mesmo que não houvesse um universo material a verdade não estaria comprometida, pois seria verdadeira a inexistência do universo material. Se o universo material sempre irá existir, isto também é verdadeiro. Se a verdade não existisse, seria verdadeiro que a verdade não existe. De forma que a eternidade da verdade é estabelecida antes e apesar de qualquer realidade material. Ora, a verdade é uma proposição resultante de reflexões, e proposições, por definição, são mentais. A verdade, portanto, é mental. No entanto, se está estabelecido o fato de que a verdade é eterna, mas, ao mesmo tempo a mente humana corresponde a uma mente material que, por definição, é não-eterna, somos então levados a uma única conclusão: que a verdade nunca pode ser derivada da mente humana. A natureza eterna da verdade requer que uma outra mente, que não seja temporal ou material, seja o fundamento da verdade. Se a verdade é mental e eterna, ela só pode derivar de uma mente eterna.
Mas não paramos aqui, a natureza da verdade não se limita à sua eternidade. Outra característica da verdade é sua imutabilidade. A verdade não muda. Opiniões mudam, a verdade não. Mas se, de acordo com os relativistas, a verdade muda, como esses relativistas podem garantir a sua negação acerca da imutabilidade da verdade? Se a verdade muda, a afirmação de que "é verdade que a verdade muda" também mudaria. De forma que as afirmações relativistas acerca da relatividade da verdade também não estariam garantidas. E se não estão garantidas, por qual motivo os relativistas enchem os pulmões com ares de certeza acerca da relatividade da verdade?
Não é preciso ir muito distante para sabermos que a natureza da verdade é sua imutabilidade. As opiniões diferentes acerca de um fato não mudam a realidade de que o fato está posto. Muitas são as opiniões, mas muitas opiniões estão erradas, e outras certas. É impossível, à luz da razão, sustentar ao mesmo tempo e no mesmo sentido opiniões que se contradizem. Se a lei da não-contradição é verdadeira, e creio que seja, torna-se impossível afirmar que todas as opiniões se equivalem. Se a lei da não-contradição é uma verdade, então, por definição, a negação dessa lei seria uma falsa concepção. Se a verdade muda, a lógica, que é verdade, mudaria. Se a lógica muda, o discurso perderia o sentido e afirmações e negações se equivaleriam, restando aos homens a esquizofrenia discursiva. Desta maneira, se a verdade é mental, eterna e imutável, ela não pode derivar e muito menos ser confundida com a mente material, pois a mente material, não é imutável, muito menos eterna.
Alguns materialistas descartam a hipótese e a existência necessária de Deus, pois como já dito, a crença do materialismo é a negação de qualquer certeza metafísica. No entanto, se a verdade existe e , por lógica, ela é inescapável, ela não pode derivar e muito menos se confundir com a mente humana pelas razões acima descritas. Resta-nos apenas atribuirmos por necessidade lógica o fundamento da verdade à uma mente imaterial, eterna, imutável e inescapável. O Deus da bíblia contém características que podem compor a natureza da verdade: Ele é imaterial, eterno, imutável e inescapável. Não foi atoa o que Cristo disse em João 14:6. Ele é de fato o caminho, A VERDADE e a vida. A existência da verdade torna necessária a existência de uma mente divina e superior.
Soli Deo Gloria
Álvaro Rodrigues