quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Gênesis 3:16 abona o machismo ensinando a inferioridade da mulher?



Gênesis 3:16 é um dos textos utilizados pelos incrédulos para fundamentar a proposição de que "a bíblia abona o machismo e a inferioridade das mulheres em relação aos homens". Para esses incrédulos, a expressão " o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará", é a prova cabal de que a escritura é machista e que legitima a opressão sobre as mulheres. Além disto, o outro argumento utilizado por estes não- crentes para fundamentar a ideia de que o texto é machista é que "o texto parece demostrar que somente a mulher sofreu com as devidas consequências da queda". Ora, na verdade existem outros textos que são utilizados para fundamentar as tais proposições dos incrédulos, mas no momento apenas irei me deter em analisar Gênesis 3:16 e responder as tais objeções levantadas contra a relevação bíblica, bem como analisar o real sentido da submissão da esposa ao marido, entre outras questões que são resultantes do tema.

Gênesis 3:16 diz : "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará"

Em primeiro lugar, situando o versículo, o que está sendo tratado nele, bem como em boa parte do capítulo, é o terrível fato da queda do homem, e, logo em seguida, das consequências resultantes desta queda.  É preciso entender que, com a queda, toda parte da criação de Deus sofreu com as devidas consequências, e a mulher não ficou imune  à esta dura realidade. No entanto, alguns desses críticos  se esquecem que, neste mesmo capítulo, é falado que o homem também tem participação nas consequências da queda; não somente a mulher. No capítulo 3 de Gênesis, mais precisamente no versículo 17, é dito que Deus faria o homem sofrer dores para conquistar o pão diário e se manter. Portanto, não só foi a mulher que sentiu na pele as consequências da queda; o homem também. Agora, quanto a questão do texto em análise e sua afirmativa de que o homem irá dominar a mulher, alguns esclarecimentos são necessários.

Primeiramente é bom lembrar que a questão da liderança, muito antes da queda, já era uma função dada por Deus ao homem, tanto é que fora dada a Adão a responsabilidade de cuidar do Jardim(Gn 2:15), sendo a mulher a sua ajudadora(Gn 2:18). Como também, o Apóstolo Paulo fundamenta o princípio da submissão não como uma consequência da queda,  mas na perfeita ordem da criação estabelecida por Deus antes dela(1 Tm 2:13).  Em segundo lugar, quando o texto diz que o homem dominaria a mulher, refere-se ao fato de que esta relação de submissão, que antes da queda era harmoniosa, agora seria, na maior parte dos casos, desarmoniosa; ou seja, o homem iria, mediante a força ou por outros meios incorretos, buscar dominar a mulher, e a mulher buscaria, em muitos casos, resistir a esta dominação. E é isto o que de fato acontece. Então, primeiramente nota-se que o texto não ensina a questão da submissão como algo que é consequência da queda. O foco do texto é demostrar as consequências do pecado e a desarmonia que este pecado trouxe  para o que Deus havia definido naturalmente antes da queda, que era uma submissão harmoniosa, respeitosa e até amorosa da mulher para com o homem.  De forma que o texto está apenas testificando UM FATO que à partir da queda, como consequência, em vários casos se tornaria patente. Gênesis 3:16  não diz que Deus havia ordenado o homem controlar de forma abusiva, e muito menos tratar mal a sua esposa, diz apenas o que aconteceria à partir de então. Em outras palavras, o texto seria apenas a testificação de uma realidade  pós-queda. O texto não está tratando da vontade prescritiva de Deus, isto é, de um mandamento dado aos homens para que estes maltratem, agridam e não amem as mulheres. Para que o crítico da bíblia tenha razão em sua afirmação de que o texto é machista, ele primeiramente  deverá (no mínimo) provar que Deus ordenou em tal texto que o homem trate mal a sua esposa, ou que tal texto esboça um tipo de inferioridade da mulher. O texto só fala das consequências da queda, isto é, da incapacidade do homem e da mulher de , em alguns casos, cumprir com suas funções de líder( no caso o homem) e ajudadora(no caso a mulher).

Não há na Escritura nenhum mandamento que ordene o homem bater, humilhar, e até matar sua esposa; o que há é justamente o contrário. Na bíblia, existe um claro mandamento dado por Deus, por meio do Apóstolo Paulo, para que os homens amem as suas mulheres. Paulo, em Efésios 5:22-32, é tão enfático quanto a isto que repete por TRÊS VEZES o mandamento "maridos, amai vossas mulheres". E não somente isto, o apóstolo também diz "Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela(5.25). Ou seja, o marido deve amar sua esposa da mesma forma que Cristo amou a igreja, isto é, com amor incondicional. Amar a mulher como Cristo amou a igreja significa estar disposto a morrer e, se necessário, passar por várias humilhações possíveis, e tudo isto por amor de sua esposa. Sim, é isso mesmo, o marido deve estar pronto para, se for preciso, até mesmo entregar sua vida por amor à sua esposa. Agora responda-me o inimigo da escritura: onde há nesta bíblia um único mandamento dessa natureza dado por Deus à esposa?  Simplesmente não existe! Não há na bíblia, nem mesmo  uma única passagem, que ordene a mulher entregar  sua vida e dar proteção ao seu esposo como cópia do modelo do amor de Cristo pela igreja.


Já quando se fala em submissão da esposa ao marido, significa dizer que ao homem foi entregue o papel de líder do lar. É enorme a diferença entre ser  líder e ser um ditador. Ao homem foi entregue a responsabilidade de liderar a sua casa. Deus delega líderes para todas as áreas da vida, seja no trabalho, na escola, no civil, etc.  Ele também não poderia esquecer da família. O papel do líder pode se resumir em duas palavras: provisão e proteção. O homem deve ser o provedor de seu lar, como também tem o dever de proteger sua família. A mulher corresponde isto sendo ajudadora e submissa a ele.  A mulher, por ser submissa, não está proibida de ter voz em sua casa(Mc 10:8). A mulher é o coração do lar; ela precisa ser ouvida e amada. O bom marido, em determinados momentos de conflitos, ouvirá as razões de sua esposa, e deve seguir as recomendações dela em muitos casos. Mas, quando não se chega a um denominador comum, a voz do líder deve ser considerada como palavra final, como acontece em qualquer lugar onde há uma liderança. Porém, devemos nos lembrar do fato de que esta submissão é no Senhor(Cl 3:18), ou seja, a mulher não deve se submeter ao marido que exige dela desobediência a Deus e Sua palavra. Outro detalhe importante é que submissão não implica inferioridade, mas sim no amor. O maior exemplo bíblico de que submissão não implica inferioridade é visto na pessoa de Cristo que "sendo Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas se submeteu ao Pai tomando forma de servo"(Fl 2). Ora, deste exemplo vemos a impossibilidade de ser cristão e defender que submissão implica inferioridade. Cristo não se submeteu ao Pai por ser inferior(Ele é Deus), mas por amor e obediência.  

Outrossim, é bom lembrar que,  numa perspectiva divina, o valor de uma pessoa encontra-se fundamentado na pessoa do próprio Deus que é o fundamento último de toda a realidade(visto não existir um princípio de autoridade maior que Ele)  e que, por isto, define o que é valor e o que não é. Deus não define a mulher como inferior ao marido por ela dever a este uma submissão; Deus não definiu Cristo como sendo inferior a Ele à partir do momento que Cristo quis ser Seu submisso. Então quem é o pseudo-cristão para levantar a proposição "submissão implica em inferioridade" quando Deus diz que não é assim?

Além disto, numa perspectiva puramente humana e profissional, entendemos que o valor de alguém não é medido pela função(profissão) que ele(a) tem, mas pelo compromisso com a função exercida. Um auxiliar de enfermagem pode até não ter o mesmo status que um enfermeiro, mas ele pode ser reconhecido como alguém de maior valor do que o tal enfermeiro, quando cumpre com suas responsabilidades e o enfermeiro não. Logo, o valor é medido pela responsabilidade da pessoa, não por suas funções. Este mesmo raciocínio vale para o princípio da submissão da esposa ao marido. A mulher não é inferior quando cumpre com a sua função de se submeter a ele. Muito pelo contrário, quando ela se submete, demostra biblicamente ser de valor tanto quanto o marido, pois cumpre com sua função de esposa. 

Desta forma, podemos sustentar a crença de que Gêneses 3:16 e toda a bíblia não abona o machismo ensinando a inferioridade da mulher. Quem faz tal acusação, prova para si mesmo a sua ignorância e desinformação no que refere-se à revelação escrita de Deus. A palavra de Deus permanece firme e inabalável para todo o sempre; ela não se contradiz. A  revelação escrita de Deus é o princípio último e fundamento de toda a realidade; sem Deus e a Escritura, não existe padrão coerente a ser seguido.

Sola Scriptura

Álvaro Rodrigues